ATRAVÉS DO UNIVERSO – Uma coincidência cósmica sem causa?

domingos-150x150O GEDAI publica o sexto texto da série  “ATRAVÉS DO UNIVERSO”, coluna mensal do prof. Domingos Soares (Departamento de Física/UFMG). Conheça mais sobre o autor em sua página eletrônica. Veja os textos anteriores da série clicando neste link.

Uma coincidência cósmica sem causa?

Domingos Soares

16 de abril de 2018

A Lua é um buraco no céu
através do qual eu olho o Sol.
D. Soares, Poemas Astrocósmicos

No dia 21 de agosto do ano passado ocorreu um eclipse do Sol. O disco lunar passou lentamente pela frente do disco solar e, em alguns locais da Terra, a sombra da Lua tornou o dia em noite por quase 3 minutos. Este é o chamado eclipse total do Sol. Em outros locais tivemos eclipses parciais (inclusive, em parte do Brasil) e em outros locais não houve eclipse.

Um eclipse total acontece porque o disco lunar é aproximadamente do mesmo tamanho que o disco solar quando vistos da Terra. E isto é uma grande coincidência. O Sol está a 150 milhões de quilômetros da Terra (DS) e a Lua a cerca de 400 mil quilômetros (DL). Os seus diâmetros reais (dS e dL) são tais que a estas distâncias são vistos com os mesmos tamanhos aparentes projetados na abóbada celeste (θ = dS/DS  dL/DL  0,5 grau). Por que esta coincidência?

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Os tamanhos aparentes da Lua e do Sol quando vistos da Terra pelo observador em O são aproximadamente os mesmos, ou seja, dS/DS ≅ dL/DL ≅ 0,5 grau.

Sabemos que a Lua tem uma importância fundamental para a qualidade do ambiente terrestre, a saber, na manutenção de uma sucessão suave de estações do ano. Isto é o resultado da ação da Lua na estabilização da inclinação do eixo de rotação da Terra (cf. Soares 2007). A vida humana no planeta é mais sustentável sem mudanças drásticas e imprevisíveis do clima. Devemos a estabilidade sazonal ao nosso satélite. Mas isto não requer que dS/DS  dL/DL.

A Lua se afasta da Terra atualmente cerca de 4 cm por ano. A causa do aumento da distância Terra-Lua (DL) é a transferência de energia rotacional da Terra para a energia orbital da Lua devido à interação gravitacional no sistema. Utilizando-se a lei da gravitação universal bem como a lei da conservação do momento angular obtém-se este resultado.

Em 100 milhões de anos a distância Terra-Lua passará a ser 4.000 km maior e, consequentemente, o tamanho aparente da Lua será 1% menor. A idade da Terra é de mais de 4 bilhões de anos, então, com a mudança do tamanho aparente da Lua em 1% a cada 100 milhões de anos — ou a uma taxa maior no passado — a coincidência mencionada acima fica evidente. Por que o tamanho aparente da Lua é o mesmo do Sol exatamente agora quando nós, seres inteligentes — capazes, por exemplo, de prever com antecedência a ocorrência de eclipses — andamos pelo planeta Terra?

Há ainda outros fatores que podem ser considerados e que poderiam ter impedido a coincidência como, por exemplo, o tamanho da Lua (massa e densidade). Se a densidade da Lua fosse diferente de seu valor atual a coincidência não existiria.

Uma coincidência cósmica sem causa?

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Domingos Savio de Lima Soares
FLORESTA COSMOS
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