O GEDAI publica o trigésimo sétimo artigo da série ATRAVÉS DO UNIVERSO, coluna mensal do prof. Domingos Soares (Departamento de Física / UFMG). Conheça mais sobre o autor em sua página eletrônica.

Astronomia em selos postais

Domingos Soares

14 de novembro de 2021

A União Astronômica Internacional (IAU) possui várias comissões, nas quais os seus membros se agrupam em torno de interesses comuns. Por exemplo, a comissão C3 reúne os interessados em História da Astronomia. Esta é uma das comissões da qual eu faço parte e, como tal, recebo os seus boletins. O mais recente deles foi publicado em junho deste ano e contém um artigo muito interessante.

O autor, Ian Ridpath, presidente da Astro Space Stamp Society, Reino Unido, é premiado divulgador da ciência e da astronomia. O seu artigo intitula-se “Astronomy on Stamps before the Space Age” e é dele que retirei a inspiração para este texto e parte da informação apresentada a seguir.

A astronomia e a exploração espacial têm sido os temas de selos postais desde o lançamento do Sputnik 1 em 1957. Mas antes disto existem exemplos de selos inspirados na astronomia e, interessantemente, o primeiro deles foi emitido pelo Brasil em 1887.

Ele mostra a constelação do Cruzeiro do Sul. A ilustração inclui a quinta estrela mais brilhante da constelação, Epsilon Crucis (ε Crux), que, a propósito, é omitida em algumas representações. O selo tem o valor de 300 réis; réis é o plural de real, antiga moeda usada no Brasil até 1942. (Note que a moeda atual do Brasil, a partir de 1994, também chama-se real, mas o seu plural é reais.)

O primeiro selo postal com inspiração astronômica do mundo é brasileiro, 1887.

O Prof. Júlio César Penereiro, Dep. de Física, Instituto de Ciências Exatas, PUC, Campinas, SP, escreveu um artigo muito instrutivo sobre os selos de inspiração astronômica. O artigo, de 1997, é intitulado “A filatelia como forma de divulgação da astronomia”. À seção II, pág. 66, sobre os serviços postais, lemos:

Na Inglaterra, o administrador geral dos correios, Sir Rowland Hill, entendeu que esses serviços deveriam ser pagos antecipadamente. Para tanto idealizou um pequeno retângulo de papel com um valor predeterminado estampado, que seria colado na missiva ou carta, indicando que ela já fora devidamente franqueada. Nascia assim o selo postal, tendo sido o penny black o primeiro selo do mundo a entrar em circulação. Isso se deu a 6 de maio de 1840. O Brasil aderiu ao uso do selo postal através de um decreto assinado pelo Imperador D. Pedro II, em novembro de 1841. Tal determinação, entretanto, foi concretizada somente em agosto de 1843, com a emissão de uma série de três selos, com valores de 30, 60 e 90 réis, popularmente denominados ‘olhos de boi’. Nesse meio tempo o cantão suíço de Zurique já havia emitido uma série de dois valores, para uso local e, dessa forma, o Brasil foi o terceiro país do mundo a efetivamente se utilizar da engenhosa concepção do Sir. Hill.”

O Prof. Júlio César mostra dois exemplos de selos com o Cruzeiro do Sul (Nova Zelândia e Botsuana), mas o famoso selo brasileiro de 1887 não é mencionado.

O primeiro selo postal dos Estados Unidos mostra uma vista do Observatório Palomar, emitido pelo Serviço Postal dos Estados Unidos em agosto de 1948, dois meses depois da cerimônia de inauguração do observatório. Ele foi produzido em grande quantidade e ainda pode ser adquirido facilmente. A figura abaixo mostra a reprodução do exemplar que adquiri, em fevereiro de 1998, por ocasião de missão astronômica no telescópio Hale de 5 metros de abertura. O selo está plastificado em placa de plástico, que mede 5,5×8 cm². Na parte posterior há um ímã colado. A figura mostra a placa de plástico com tamanho maior do que as dimensões reais, para melhor visualização do selo.

Suvenir vendido na loja de lembranças no alto do Monte Palomar, que contém o primeiro selo postal estadunidense de inspiração astronômica, 1948.

Para encerrar, mostro um dos inúmeros selos, dos Estados Unidos, que homenageia o astrônomo americano Edwin Powell Hubble (1889-1953), fundador de uma nova área de investigação em astronomia, a astronomia extragaláctica.

Selo de 2008, 41 centavos, mostrando o astrônomo Edwin Hubble. O telescópio Hale de 5 m, Monte Palomar, no qual o astrônomo realizou pesquisas fundamentais, é visto ao fundo.

Um pouco mais:

“Astronomy on Stamps before the Space Age”, pág. 28 de IAU-C3-Newsletter-2021-1
“A filatelia como forma de divulgação da astronomia”, Cad. Cat. Ens. Fis., v.14, n.1, abr. 1997

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Domingos Soares
FLORESTA COSMOS
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